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Garota Nacional

  • Andressa Correa
  • 13 de jul. de 2016
  • 6 min de leitura

Uma hora ou outra na vida, algum brasileiro já ouviu alguma música da banda Skank - ou assim eu espero, para que eu possa escrever esse post.

É uma banda que nasceu em 1991 em Belo Horizonte e fez um sucessão no Brasil. Eles tem umas músicas que eu gosto muito, como Resposta, Sutilmente, Eu Ainda Gosto Dela... São todas com letras bonitas e/ou ritmos tão gostosos que dá vontade desde de ficar deitado na cama chorando até a dançar deliciosamente no meio da sala sem ter medo de ser feliz.

Bem, pelo menos pra mim.

E dentre essas músicas, tem uma em especial, chamada "Garota Nacional". Assim que você a ouve, dá uma vontade imensa de requebrar, de sacudir a cabeça, os quadris, sem medo de ser feliz.

Até você olhar a letra.

E assistir o vídeo dela.

Ok, sendo honesta, jogando as cartas da hipocrisia na mesa, eu vi o vídeo, refleti sobre a letra e ainda tenho vontade de dançar ela no meio da sala - não tem jeito, é gostoso de ouvir. Mas quando a gente se depara com esses machismos por aí, tem que ter noção do que tá acontecendo, no mínimo.

E eu gostaria, em parte, de falar sobre isso.

Nós, adolescentes, somos obrigados devido aos vestibulares como Fuvest e Unicamp, ler vários livros nacionais do século passado, e até antes dele. São livros de qualidade, gostando da leitura (os excêntricos) ou não.

Dentre esses livros, estão alguns como "Memórias de um Sargento de Milícias", de Manuel Antônio de Almeida; "O Cortiço", de Aluísio Azevedo; e também "Iracema", de José de Alencar.

O que esses livros possuem de comum é querer personificar o brasileiro. Quando isso acontece na figura de Leonardinho, em Sargento de Milícias, o brasileiro é basicamente um homem vadio, malandro, inconsequente, que consegue as coisas fáceis. O livro demonstra suas atitudes, o que nos dá base para explorar sua personalidade, a personalidade do brasileiro. Já em "O Cortiço", temos o "abrasileiramento" de um personagem, em que ele passa a se tornar, como Leonardinho, vadio, preguiçoso, malandro. Ambos os livros retratam o brasileiro pela sua personalidade, vale a pena guardar isso. Suas características físicas mal são sitadas.

Já em Iracema, quando José de Alencar pretende construir a identidade do Brasil, do país, ele procura exaltar a figura do índio e ele utiliza uma mulher para isso.

Sim, em pleno século XIX, o Brasil, graças ao José de Alencar, ganhou uma heroína feminina. Uma figura admirada pelos leitores da época que liam o livro, vale ressaltar.

Entretanto, também é necessário ressaltar as falhas, e o ponto de partida acaba sendo que a consagrada Iracema foi escrita por um homem - e não um homem qualquer, foi escrita por José de Alencar.

Sim, essa é uma falha porque naquela época nós mulheres éramos praticamente mudas diante da sociedade, éramos apenas uma boneca, um acessório que o marido pudesse exibir - e as negras não eram nem mesmo consideradas seres humanos. Não éramos reconhecidas como pessoas tão complexas, com sonhos, curiosidades e vontades como os homens sobre assuntos diferentes de casar, ter filhos e cuidar da família. Em suma, são raras as mulheres que conseguiam se mostrar, se aventurar e ser reconhecida pelo mundo, principalmente porque esse reconhecimento vinha dos homens. Dessa forma, era raro conseguirmos mostrar quem somos pelo simples fato de sermos mulheres, e em momentos como o da nossa representação, quem a fazia eram os homens - e muitas vezes, eles se perdem em meio de suas visões machistas, resumindo-nos em santinhas que querem casar, ter filhos, cuidar da casa, da família, ou as putas, as que instigam o desejo sexual deles, as provocam, o pecado em carne. As clássicas "mulheres para casar ou namorar".

Me lembro de ler o primeiro livro de uma série chamada Rangers, de John Flanagan, e um dos principais motivos de desistir da série logo de cara era uma personagem feminina que, quando foi encontrada, chorava de medo, encolhida, porque tentava se esconder de uns monstros inventados pelo autor. Em menos de duas páginas ela já estava recomposta e querendo lutar. Na mesma cena, meros instantes depois. Não houve uma transição ou algo do tipo, foi brusco e irrealista, pessoas não agiriam desse modo - mas para o autor, uma mulher forte talvez agisse assim. Dos meus amigos que continuaram a ler, me disseram que o desenvolvimento dos personagens foi melhorado ao longo da série, então se você pretende ler, não desanima (:

É claro que existem fortes exceções, e um exemplo disso é o próprio Machado de Assis e suas mulheres - em Memórias Póstumas, Virgínia é uma mulher forte, que sabe o que quer, quando quer e na hora que quer. Não se deixa levar pelos desejos de Brás, do marido ou do filho, e sim pelos seus. E, recentemente, temos as mulheres de Game of Thrones, de George Martin, que falam por si mesmas.

Deixando alguns devaneios de lado e voltando a Iracema, é próprio do José de Alencar encher o texto de adjetivos, e quando ele começa a descrever Iracema, sua beleza é extremamente ressaltada. Entretanto, isto também é devido ao caráter romântico do autor, correspondente também ao período em que foi escrita a obra, e por esses motivos podem ser relevados. O que mais pesa na obra de José de Alencar são as atitudes de Iracema - atitudes realizadas por amor, e por isso ela se tornou uma consagrada personagem romântica -, mas atitudes que quebram todos os princípios que ela adquiriu ao longo da vida, feitas por um amor que claramente não é correspondido, no mínimo não à altura do seu, como deveria acontecer. Para mim, a cena que melhor representa o que eu quero dizer é quando ela responde a Martim, com quem namora, que se o seu próprio irmão chegasse até onde vivam com a intenção de mata-los, ela preferiria defender-se e defende-lo do irmão, até mesmo matar o próprio irmão, do que Martim o fazê-lo e tornar-se um assassino. Me diz se uma mulher preferir tornar-se uma assassina para que seu amado não se torne (frisando, novamente, que o amor não é recíproco - mas mesmo se fosse, ainda assim seria um absurdo) é, ou não é, um cúmulo?

E o que isso tem a ver com a banda Skank? A musica deles é, novamente, a representação problemática da mulher feita por um homem. Na letra, quando o autor fala sobre a garota nacional, sobre a mulher brasileira, ele não fala sobre sua personalidade - até mesmo a descarta, em "eu detesto o jeito dela, mas pensando bem/ ela facha com meus sonhos como ninguém". Ele estampa a mulher brasileira simplesmente pela sua sensualidade, e apenas isso, por toda a letra, sendo ainda mais explícito no vídeo quando seus corpos são mostrados sem censura alguma com o objetivo pobre e baixo de atrair a atenção de quem o esteja assistindo, transformando mulheres, pessoas, em um objeto de desejo, o pecado em carne - a mesma ideia da Bíblia, escrita há mais de dois mil anos atrás. Um pensamento um pouco ultrapassado, não concordam?

O vídeo ainda por cima dá abertura para discutir sobre o colorismo, termo que prefiro que você clique no link, assista ao vídeo da Nataly e entenda por si mesmo do que eu explicar (altas chances de deu falar várias merdas se o fizer).

Pois bem, a parte do meu trabalho que eu realmente queria fazer é a que esta por vir: do que é feita, então, a mulher brasileira?

Cara, o Brasil é enorme e eu não teria a capacidade de falar com propriedade, mas dá pra ter um gostinho do que realmente somos .

Primeiramente, sim, a mulher brasileira é linda e sensual, como mostram as Victoria Secret's Angels Adriana Lima, Alessandra Ambrosio, Izabel Goulart e Laís Ribeiro;

Além das divas Rojane Fradique e Ana Bela:

Rojane Fradique
Rojane Fradique

Ana Bela

As mulheres brasileiras se passam por homens e vão à guerra, como Jovita Feitosa:

Jovita Feitosa

Nós também somos fodidas no tênis, como a Maria Esther Bueno, que foi a primeira brasileira a ganhar o Grand Slam na Inglaterra, no ano de 1959;

Maria Esther Bueno

Nós até mesmo fomos cangaceiras admiráveis, como Maria Bonita:

Maria Bonita

E também consagradas escritoras, como a Clarice Lispector:

A mulher brasileira também luta pela educação em nosso país, e uma delas atualmente atingiu o prestígio de receber o Prêmio Darcy Ribeiro de Educação 2015, organizado pela Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. O que é melhor: Débora Saebra possui brilhantes lutas, que você pode dar uma conferida bem por cima nessa reportagem aqui.

A mulher brasileira é a primeira colocada na IV Olimpíada Brasileira de Neurociência (Brazilian Brain Bee) e conquista a única vaga para nos representar na 16ª Olimpíada Internacional, tal qual Lorrayne Isidoro (você pode ler essa matéria sobre ela mais detalhada).

Além de, obviamente, sermos as melhores cantoras:

Sandy

Elis Regina
Amanda NegraSim
Cássia Eller

 
 
 

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